Trotamérica: exposição e o futuro

Aos acompanhantes do Trotamérica, duas novidades:

A primeira é que acabamos de abrir uma exposição com as fotos do role pela Bolívia, no hall da Reitoria da UFSC, em Floripa. Gostaria de convidar todos a passarem por lá e ver como tá tudo. Mais informações podem ser vistas no blog do DAC.

Família boliviana em viagem nos arredores de La Paz, uma das fotos da exposição

A segunda é que o trotamérica, que começou como uma brincadeira entre amigos, e acabou se tornando mais e mais sério ao longo da viagem (em muito por percebemos quão pouco sabemos da América Latina)  tá se transformando em um projeto cultural elaborado, visando a continuidade dessa primeira experiência. Em breve, se tudo der certo, teremos boas notícias para postar por aqui – além de garantir que esse espaço não ficará mais largado às moscas.

Aguardem!

Bicentenário!

Que os argentinos são patriotas, isso todos os brasileiros falam. Aqui essa impressão é mais marcante ainda. Não sei se é a nossa falta de interesse pela política brasileira ou se são as energias da Copa do Mundo se esvaindo por cada poro do povo aqui de baixo, mas que se nota um patriotismo incrível em cada lugar que se passa, isso se nota.

São os cachorros com coleira azul e branca na esquina con las calles La Rioja y San Jeronimo, os broches pregados no peito dos estudantes que sobem no ônibus da linha 2 rumo ao campus do Pozo da UNL, em sinal de memória do ato da Revolução de 25 de Mayo, ou simplesmente um simples chico de Mendoza me perguntando sobre a política do Lula e o que eu acho dela.

não tenho foto de um cachorro na esquina da La Rioja mas tenho da Luiza tomando um mate 🙂

E falando em Revolução, nesse último 25, terça, foi comemorado o bicentenário da independência da Argentina. Na verdade, a independência aconteceu no dia 9 de Julho de 1816 mas foi em 25 de Maio de 1810 que se deu o pontapé inicial à revolução que se encaminhou rumos à independência.

Com isso, não preciso nem comentar a mobilização do país para comemorar a data… um pessoal aqui da residencia foi à Buenos Aires pra participar dos shows e festas que se deu lá enquanto que aqui em Santa Fé tivemos comemorações mais modestas. Um desfile na praça 25 de Mayo e um show no Parque Sur pela manhã, aos quais eu não assisti porque só fui lá depois com mais um grupo da casa, curtir o fim do dia nos gramados junto com muitos outros santafesinos.

chicas guapas en el parque

as sociólogas do grupo em ação

Pero sabe la mayoria qué se celebra cuándo se tiren fuegos artificiales en la Plaza de Mayo?

25 de Mayo de 1810 é o marco do rompimento com a ordem colonial do Rio da Prata, quando pela primeira vez se monta um autogoverno, mas o fato não ocorreu de forma isolada se não como um processo estreitamente ligado ao processo revolucionário americano. Argentina foi um país pensando como uma alternativa, ao sul, aos Estados Unidos e isso não levou a nada. Não conseguiram se definir como um país e desde então há sofrido um processo de decadência progressivo.

“…1810 no es el nacimiento de la Nación argentina como tal sino que es parte del proceso de su construcción, dificultosamente resuelto y recién consolidado hacia fines del siglo XIX. Por qué celebrar entonces el 25 de Mayo? Porque mayo tiene la fuerza de mostrar la capacidad de hacerse cargo de los destinos de una sociedad.”

anarquismo e Juan de Garay juntos no dia da Revolução

Argentina é um país que sempre teve um crescimento enorme em termos de desigualdade, incerto dentro do continente mais desigual do planeta. E agora, o povo chega ao bicentenário pensado e repensado a partir dos centros, onde as periferias não têm muito o que dizer em relação à construção de um cenário social e territorialmente mais coeso.

Desde os aspectos político, social e cultural o Bicentenário é mencionado mas com pouco reflexão sobre o tema. Nem todos se lembram dos ideais de revolução, emancipação, igualdade e soberanía que tinham aqueles revolucionário em princípios do século XIX, se bem que nem na época esse pensamento era bem disseminado, ficando isolado apenas no meio elitizado onde se pregava uma demorcracia onde só os poderosos tomavam as decisões.

plaza 25 de Mayo

Tudo bem que estou eu aqui, sentanda da minha “silla” no comedor da residencia, às 3:19 da tarde do dia 27 de Mayo, com minha roupa de escalada enquanto o Alejandro e Bárbara dão gargalhadas na cozinha com mais outras pessoas, e Jordi estuda em seu computador e Camila come um prato de vagem, abobrinha e tomate silenciosamente ao meu lado.

Pode parecer banal ou que eu sou uma “péla-saco” da militancia ou do senso revolucionário na Argentina, mas na verdade, pelo simples fato de estar aqui, me sinto um pouco parte de todo o contexto, e acho legal que pelo menos boa parte da população se proponha a repensar assuntos pertinentes à evolução de uma política e um bem-estar. Nada melhor que uma data forte como essa pra reacender o sentimento. E, como se não bastasse, pra acender mais ainda o fogo, temos a Copa do Mundo em menos de 20 dias.

Hasta el Mundial, hermanos!

Pelé es mejor que Maradona, prontofalei.

eu, gatinha, em versão argentina. Viva o mate!

Fonte: “El Paraninfo”, año 7, n. 66, mayo de 2010.

Residencia Estudantil

Hola pueblo y puebla!!

Hace mucho tiempo que no escribo acá por lo tanto creo que los devo alguna satisfación rs

Sim, há um tempo que quero fazer um relato sobre a vivencia de morar con 34 intercambistas numa casa que parece mais uma grande Vila do Chaves. Já com dois meses de casa, são muitas as histórias…

…sessões de filmes pelas madrugadas, churrasco às 8 da manhã, gente que não lava a pilha de louça suja, aqueles que roubam o papel higienico de outrém, sala de estudos com pessoas realmente estudando, viagens, acampamentos, aulas de espanhol, jantares, desayuno, pilates, mural do desabafo…

achei interessante fazer uma compilação visual das experiencias cotidianas (e hilárias!) que todos suelen encontrar mientras vivem y dormen en la residencia para alumnos extranjeros de la calle 9 de julio, 2655.

Segue a galeria. Bom divertimento 🙂

Santa Fé, enfim!

Si chicos, ahora estoy sola.

Resolvi continuar com o blog Trotamerica pra relatar a minha atual experiencia de intercâmbio na cidade de Santa Fé, na Argentina. Apesar de quedarme en un solo lugar (na maior parte do tempo) isso nao significa que eu não esteja mais trotando pela América.

Antes de chegar a Santa Fe, passei 3 dias em Buenos Aires com a minha irmã e cunhado e também me encontrei com a Mayara, minha companheira de intercãmbio, aluna de Adm da UFSC. Rescolvemos curtir a capital um pouco antes de partir pra nossa vida santafesina.

cementerio de la recoleta

23 mil passos em um dia

nat and steve

uma das muitas manifestações trabalhistas em BA

eu e mayara, “turixtas”, na casa rosada

e uma homenagem aos muitos gatos de rua que sobrevivem na cidade… esse aí tava cagando e andando pra mim.

Pois bem, agora estou sentada na minha cama, no quarto de número 13, o qual divido com más otras trés chicas, pero ellas no són argentinas, españolas o mexicanas sino brasileñas mismo. A residencia estudantil em que estou ficando, a chamada RAE 1 (muito famosa aqui na cidade, por sinal), habitam 34 alunos do programa de intercâmbio Escala Estudantil, sendo que dentre esse número, 22 são brasileiros. De resto, há um francês, dois espanhóis, 4 mexicanas, 1 marroquino, uma paraguaia e me parece que ainda tem uma chilena pra chegar.

Galera da RAE 1!

pelas calles de la ciudad qualquer noite dessas

madrugada de sinuca e boliche…

Há 3 dias na cidade, já deu pra conhecer muita coisa. Parece-me que já faz uns 15 dias que estou aqui!

Tive a grande sorte de conhecer um casal maravilhoso de Santa Fé durante a viagem ao Peru (previamente relatada neste mesmo blog!), o Pablo e a Candelária. Além de nos levarem pra um city tour no domingo e nos mostraram os famosos sorvetes artesanais da cidade, Pablo tem me ajudado muito com os meus problemas bancários e Candelária, com as dúvidas sobre a universidade. Eles são dois anjos! E fazem aulas de salsa num lugar perto de casa e muito barato! Acho que voy empezar a bailar salsa con ellos, por que no?

pablo e candelária, os santafesinos mais amáveis!

Além de toda a assimilação com a nova casa, com as 33 pessoas com quem vou conviver pelos proximos meses, com as tarefas domésticas por realizar e os pepinos burocráticos de visto, banco e  universidade ainda pendentes; há assimilação constante com a nova língua. Tudo bem que é espanhol, ah vai! Mas vocês não fazem idéia como queima neurônio ter que aprender na marra essa língua, desde o “bom-dia” até 0 “boa-noite”. A experiência tá sendo muito rica e desafiadora, principalmente por conta das coisas triviais com que temos que lidar hablando español, tipo cozinhar juntos ou fazer alongamento.

Sim! Alongamento! Com medo de passar um semestre fadada aos alfajores artesanais e ao doce-de-leite, me disciplinei a fazer toda manhã os exercicios de alongamento que eu fazia nas aulas de dança afro em Floripa. E em uma dessas práticas, consegui recrutar alguns membros da casa também! Usamos o espaço da lavanderia pra ter mais privacidade e fugir do sol do pátio. Eles, então, me fizeram de professora e me puseram na frente de todos pra que eu ensinasse (?) os movimentos corretamente. Mas o mais engraçado é ter de fazer isso em espanhol!! Imaginem eu tentando explicar as posições “mesinha” e “cagar no mato”…

diossana e jordi

marcos y jasnin

horacio y mayara

jugando sueca

y fernet… bebida tipica daqui que se toma com refrigerante e tem um gosto horroroso de propolis, rs

E depois de já acostumada ao ritmo novo de vida, há mais uma coisa com que se acostumar: a universidade!

O medo de não conseguir cursar disciplinas em outra língua ou de não acompanhar as matérias (aqui dizem que são bem mais puxadas!) é coletivo. Mas consegui matar um pouco desse medo hoje, afinal foi meu primeiro dia de aula. Depois de conversar com o coordenador, selecionar as disciplinas que cursarei nesse semestre (Taller de Grafica Digital e Antropologia Cultural), ele nos mostrou o predio e tudo o que diz respeito à vida universitaria na Facultad de Diseño y Arquitectura y Urbanismo. Eu e as 4 meninas da Arquiterura que moram comigo na RAE 1 fomos assistir à nossa primeira aula, a oficina de Grafica Digital. Apesar de ser aula introdutória, gostei muito da ementa e da metodologia da disciplina. E melhor, entendi a professora!!! Re buenoooooooo!!

rio setubal, em frente à faculdade

Uma coisa interessante sobre as universidades públicas na Argentina é que, além de serem todas gratuitas, elas não possuem nenhum exame de aceite, tipo vestibular. A entrada é livre! Qualquer um que queira entrar numa universidade, pode. Simples assim.

Essa foi uma conquista ocorrida em 1918 depois de muita luta popular. Claro que além de suas vantagens há também os problemas. Como, por exemplo, a super lotação. Somente no curso de Arquitetura da UNL há 3.500 alunos. Design, um pouco menos: 2.000 alunos. Hoje passei numa sala que parecia o inferno materializado! Imagine uma sala de cursinho do Energia. Multiplica por 5. Dios mio! Era uma aula que tava tendo de alguma matéria teórica que, justamente por ser teórica e nao precisar de equipamentos, computadores ou ferramentas de desenho, eles amontoaram todas as almas que encontraram dentro daquele recinto.

Bien, pueblo y puebla, creo que esto seja todo. Escrevi bastante, claro que muitas coisas ficaram de fora, mas dá um desconto aí, estou apenas iniciando a jornada. E em 10 min tenho que sair pra milonga, há!!!

Até o próximo post!

Besos da mujer basorera.

Como assim índios no poder?

A Bolivia vive um momento muito especial atualmente. Mas como a História não é um caminho tranquilo, os trancos são muitos e os barrancos ainda bem altos para a Revolução Democrática e Cultural boliviana.

O termo – Revolução – pode espantar muitos mas para quem está acompanhando de perto, não resta dúvida: a bolivia está sendo refundada à favor das gentes que, desde a chegada do europeu em nossas terras, nunca mais foram levadas em conta.

Agitação social em La Paz, Janeiro de 2010

“Ué, mas isso não pode estar acontecendo! Cadê a ditadura do proletariado boliviano então?” – diriam alguns. ” Na Bolivia? Aquele país tão pequeno e sem tradição não tem como dar o exemplo pra gente, né?” – diriam outros. Estas e muitas outras indagações cristalizam o eurocentrismo onipresente em nosso pensamento hà tanto colonizado.

Queiram os manuais “marxistas-ortodoxos” e franco-americanos ou não, aqui quem encabeça a mudança são os povos originários . Foram estes que bancaram o questionamento ao modelo neoliberal implantado na Bolivia e trouxeram boas novas – e um projeto de nação indigena e popular – para los de abajo após a perda da vitalidade do movimento operário boliviano.

É que a economia boliviana mudou nas ultimas décadas. As manufaturas e as minas perderam a antiga centralidade que tinham na economia do país e, com isso, o movimento operário, sua tradicional vitalidade. Isso explica porque a Central Obrera Boliviana (COB para os íntimos) não é mais vanguarda de coisa nenhuma!

Mas quem disse que a COB sumiu? Presente nas marchas que derrubaram o Presidente Carlos Mesa em Maio de 2005

Quem puxa a coisa toda hoje é o Instrumento Politico para a Soberania dos Povos (nome original do MAS), essa aglomeração de organizações sociais edificada por iniciativa dos povos originários e que impulsionou Evo Morales e Alvaro Garcia Linera para a presidência e vice do executivo.

Movimiento Al Socialismo - Foto de Sarah Pabst

Isso acontece porque são exatamente estes que se encontram – desde sua forma milenar de organizar sua economia, cultura, sistema politico, enfim, sua vida comunitária – nas enclaves estratégicas do desenvolvimento neoliberal boliviano: a destruição das plantações de Coca, o avanço do latifúndio e a privatização dos recursos naturais vitais – água, terra, petróleo e gás, fundamentalmente.

Povo Invocado né não?! - Foto de Sarah Pabst

Ó là! Não tem coincidência: Evo Morales era sindicalista cocalero no Chapare e sua liderança nasce na resistencia aos projetos estadunidenses para a Coca e a Confederacion Sindical Unica de los Trabajadores Campesinos de Bolivia (entidade que organiza exatamente as comunidades e os trabalhadores do campo boliviano) foi uma das principais protagonistas na “Guerra del Agua” – onde tudo começou..

Um dos muitos Evos pelos muros de La Paz, e a água.

Evo na telinha, em Copacabana

É deste cenário de lutas concretas por uma vida digna e contra uma elite local retrógrada e aliada ao iperilismo estadunidense que surge o MAS-ISPS.

Mas como assim “desde sua forma milenar de organização”?! Um flashback rapidinho pra tratar disso.

Desde os espanhóis é que a resistencia dos povos originários… resiste! =/ Quando eles chegaram, se depararam com sociedades desenvolvidas (o império Inca tinha “acabado” de conquistar o Império Colla aymará, por exemplo) e não teve outra opção à não ser se sobrepor às mesmas, já que não tinha nenhuma possibilidade de simplesmente erradicá-las. Ou seja, os aymará, os quechuas, os guaranis continuaram se organizando como o faziam antes pero, ao invés de pagar impostos e destacar mão de obra para a realeza Inca, o faziam para a coroa espanhola.

Chola colhendo representando a policultura originária e lancha o liberalismo-imperialista, na Ilha do Sóol..

De forma beeeem simplificada, é assim que os espanhóis garantiram que a prata fosse pra europa e, do mesmo jeito, que a cultura originária sobreviveu hasta los dias de hoy! É claro que os espanhóis, nesse processo, nunca deixaram de tentar corromper todas as autoriades comunitárias para seus interesses – muitas vezes com sucesso – mas, assim mesmo, até hoje mais de 60% da população boliviana se proclama originária de alguma forma!!

Pooooor issoooo, é que não é nenhuma simbologia barata colocar a wiphala – bandeira originária – triunfante ao lado da bandeira nacional no Palácio Quemado (presidencial) na praça murillo; passar a denominar o Estado Boliviano de Plurinacional; ou empossar o primeiro presidente indigena da América Latina em Tiwanaku, capital espiritual dos povos originários desde tempos anteriores ao império Inca.

Wiphala no Palacio Quemado

E as mesmas cores nas mãos das povas

É assim que quem, à muito, não tinha vez em sua própria terra, volta a opinar e dar suas cores nos momentos e lugares que decidirão os rumos da sociedade boliviana e da construção de seu socialismo comunitário, único e criativo, como tudo na Bolívia!

Coca? É de beber, cheirar ou comer?

Resolvi escrever esse post para esclarecer as muitas verdades distorcidas sobre a folha de coca, símbolo nacional boliviano e fruto de muitas divergencias quanto ao seu valor cultural e economico.

a folha de coca

– Um breve histórico sobre a coca na Bolívia

A folha de coca possui funcoes culturais, ritualisticas e nutritivas milenares. A folha em si é inofensiva e nunca houve problemas com cocaína no país até os Estados Unidos se meterem na história, ó que novidade.

A partir da década de 70, sob o pretexto de haver narcotrafico e excessiva producao de cocaina na Bolivia, o governo norte-americano firmou um acordo com o governo boliviano a favor do controle e erradicacao das plantacoes de coca. Até entao, o que existia era o comércio exclusivamente interno das folhas e sem dano algum a saúde. O consumo sempre se destinou aos trabalhadores das minas e campesinos (a coca fornece mais energia e tira a fome e o sono, uma vantagem para que se produza mais e tambem para aqueles que nao tem como parar pra comer durante a jornada de trabalho), nas grandes altitudes e nas regioes de baixas temperaturas.

consumo de coca dentro das minas

cholas consumindo coca na rua

Entao, esse acordo firmado permitiu que houvesse substituicao das plantacoes de coca por outros tipos de cultivo, como a banana e o cafe, por exemplo. O governo fornecia sementes e as ferramentas necessarias para esse novo cultivo, porém somente para aqueles campesinos que possuiam alguma plantacao de coca.

Logo, quem nao plantava coca, comecou a faze-lo apenas para obter essas “vantagens” oferecidas pelo programa. Comeca, pois, o primeiro impulso para o crescimento exagerado e sem sentido da coca na Bolivia. No final dos anos 80, os Estados Unidos chegaram ao cumulo de oferecerem dois mil dolares por cada hectare de coca. Imaginem o que significa esse valor para um simples campesino??? Acabava que eles semeavam a coca, arrancavam, limpavam o terreno e recebiam o dinheiro.

a planta

Mas como nem tudo cheira a rosas (ou a coca, duh), grande parte desse dinheiro acabava nos bolsos dos politicos. O resumo da historia é que os Estados Unidos estimularam indiretamente a producao de coca, os campesinos plantaram e de endividaram e, no final, muitos nao viram nem a cor do dinheiro.

Os norte-americanos, em seguida, propuseram a substituicao das plantacoes de coca por abacaxis. E, depois, laranjas. E muitas das mudas trazidas para a Bolivias acabaram por dizimar cultivos tradicionais, alem de nao vingarem no solo bolviano. Os campesinos, entao, mais uma vez, recorreram a unica producao que conseguia subsistir: a coca.

campesino colhendo as folhas

Na década de 80, implantaram-se bloqueios do comercio tradicional para que o valor da coca baixasse e os produtos alternativos tornassem-se mais competitivos. Baixar o preco da coca a tornaria anti-economica e os norte-americanos conseguiriam precos razoaveis para os produtos alternativos.

Mas com a producao e comercio tradicionais da coca encurralados, os campesinos nao viam outra saida que senao vende-la para os narcotraficantes. Havia entao dois tipos de coca: uma cara para os consumidores tradicionais e uma barata para o narcotráfico.

“O que significa tudo isso? Significa que, com sua habitual ignorancia e arrogancia, os norte-americanos incentivaram fortemente a producao de coca e tambem a producao de cocaina na Bolivia. É o sistema que chamo de técnica do balao de borracha (…) Voces apertam num lado e ele enche no outro.”

– Consumo tradicional da coca

mineiros de Oruro

Na verdade, ninguém come a folha de coca. A maneira de consumi-la é a seguinte: poe um punhado de folha na boca, enrola tudo numa bolinha e deixa essa bolinha em um dos cantos da boca (isso aí, tipo um hamster), sem mastigar ou engolir. A folha, além do seu caratér anestésico, possui muitos nutrientes (cálcio e vitaminas, por exemplo), o que faz amenizar a fome quando consumida.

Há pessoas que consomem juntamente com bicarbonato de sódio, pra catalizar o efeito. A primeira vez que provei a folha foi assim e a minha boca ficou dormente em questao de segundos! E, ainda, dá pra encontrar bicarbonato de sódio misturado com glicose, pra quem nao curte o sabor amargo (e horrível, na minha opiniao) da folha de coca.

cházin de coca

Outra alternativa é fazer um chá com as folhas, ou comprar o chá pronto. É mais gostoso e bom de beber no frio.

– E como surgiu a Coca-Cola?

Existia um italiano chamado Angelo Mariani, em 1860,  que tinha um pequeno comércio onde manipulava medicinas. Ele entao, um belo dia, fez um preparado de coca e uma famosa cantora de Paris chegou dizendo que tinha um grande problema, que estava super deprimida e que nao conseguia mais cantar. Mariani, pois, deu-lhe uma garrafa de extrato de coca dizendo que era o melhor remédio que possuía.

Vino Mariani

Mais tarde, Mariani criou um vinho em seu boticário, também à base de extrato de coca, que em pouco tempo vira coqueluche na Europa.  Até o Papa Leao XIII deu-lhe uma medalha de ouro agradecendo pelos benefícios do vinho Mariani.

Quando este vinho foi exportado aos Estados Unidos, o consumo desseminou-se rapidamente. Entretanto, o puritanismo norte-americano encrencou com a bebida porque eles nao permitiam o consumo de álcool. Entao, para nao prejudicar a comercializaçao, eles retiraram o álcool da bebida o que a tornou intragável!

Até que um tal de John Pemberton começou a misturar coisas a esse vinho sem álcool para melhorá-lo. Misturou uma certa espécie de café africano, depois uma outra planta que continha teobromina, um estimulante, e assim por diante. Até que concluiu uma bebida que continha cocaína, cafeína e teobromina, os tres estimulantes mais potentes da natureza!

Já popular nos States

Nesse momento, a bebida possuía mais de 30 substancias para neutralizar o gosto ruim do extrato de coca. Com todas essas misturas, o gosto melhorou e a bebida passou-se a chamar Coca-Cola. E seu inventor, John Pemberton.

Coca-Cola

A coca, um produto andino, se transforma em um símbolo norte-americano, um modo de vida, do capitalismo, do consumo, do individualismo.

–  Governo Evo e a coca

Evo Morales na Assembléia Geral da ONU, em 2006

Todos sabem que o atual governo incentiva a producao cocalera no país.  Em 2009, Evo defendeu a retirada da folha de coca da lista internacional de substancias proibidas, mascando umas quantas perante os 53 ministros dos países membros da comissao da ONU, em Viena.

“La hoja de coca no es cocaína, no es nociva para la salud, no provoca males físicos ni dependencia (…) estas hojas son cultivadas desde hace 3.000 años y son el símbolo de la identidad y la cultura de los pueblos andinos. (…) Si esto es una droga, entonces deberían encarcelarme.” (Evo Morales)

Morales luta contra a estigmatizacao desse cultivo, a partir do qual se fabrica a cocaína, mas que tambem é uma planta sagrada na Bolívia, de cultura e consumo tradicional e terapeutico.

criança indígena oferecendo coca à imprensa, no convite oficial à posse de Evo Morales, La Paz, 2010

Os Estados Unidos condenam esse cultivo, em expansao, o que levou o presidente bolviano a expulsar, no ano passado, a agencia norte-americana de luta anti-droga (DEA) da Bolívia.

Evo Morales, que ainda se apresenta como dirigente dos cocaleiros da zona de Chapare, afirmou que a Assembléia Legislativa Plurinacional (formada nesse ultimo domingo, 24, em Sucre)  aprovará reformas para permitir a legalização dos cultivos conhecidos como “catos de coca” nesta região. Dessa forma, o limite legal de produção da folha na Bolívia pode subir dos atuais 12.000 hectares para 20.000 hectares, com o propósito, segundo o executivo, de impulsionar todas as iniciativas de industrialização da planta.

Coca-Colla???

O governo de Evo Morales expressou seu apoio ao projeto para fabricar uma nova bebida que levará o nome de “Coca Colla”  para contribuir com a industrialização da folha de coca no país.

Víctor Hugo Vázquez, vice-ministro de Desenvolvimento Rural, afirmou que esta se trata de uma iniciativa privada para produzir um energizante de coca. “Estamos vendo como impulsionar-la, porque nos interessa como Estado a industrialização da coca. Estamos analisando se a empresa que produzirá a bebida pode formar uma sociedade mista com o Estado e também se vamos manter esse nome que inicialmente foi proposto pelos produtores de coca”, afirmou.

A iniciativa partiu dos camponeses que ainda sugeriram que a garrafa da “Coca-colla” tivesse uma etiqueta vermelha, contendo um líquido escuro, quase negro, muito parecido a mundialmente famosa “Coca Cola”, criada em 1885 por John Pemberton. Ainda que a empresa Coca-Cola afirme ter tirado o princípio ativo da folha de uma fórmula em  929, abundam na internet as denúncias de que a “Coca-Cola segue comprando coca no Peru”.

Espero ter ajudado a esclarecer muitas duvidas e fatos desconhecidos sobre a folha da coca, sua historia temporal, economica e social. Qualquer equivoco de minha parte, nao hesite em rebater!

sem mais palavras

Besitos e inté a próxima!

Bett.

Fontes: www.iela.ufsc.br, www.taringa.net, livro “Bolívia Jakaskiwa” e Google (imagens).

Resumo Fotográfico – Aguas Calientes e Machu Picchu

Tracos tipicamente incas na populacao peruana.

 

Agora que todos já sabem que estamos bem e sequinhos vou lhes contar um pouco sobre nossa trajetória até a cidade perdida de Machu Picchu. Saimos de Cuzco, numa manha nublada, rumo à cidadezinha de Santa Maria. Esse é o destino oficial dos muitos mochileiros com orçamento limitado, que preferem caminhar algumas horinhas ao invés de pagar 50 dólares na passagem de trem para Aguas Calientes (a cidadezinha aos pés do Machu Picchu). 

Busum quebradeira hasta Santa Maria!

 

Chegando em Santa M aria os mochileiros sao disputados como ouro por taxist as, motoristas de vans e “amiguitas” que intermediam o transporte entre Santa Maria e a Hidro. 

Acabamos pegando uma Van por 10 bolivianos rumo a HIDRO (início da trilha de 2h sobre os trilhos do trem que leva à Aguas Calientes). O motorista era um verdadeiro fanfarrao… numa van para 12 ele fez caber umas 16 pessoas. Além de se considerar o rei da estrada…toda vez que encontravamos um outro carro vindo na direçao contrária, ele nao se redimia! Era sempre o outra que dava ré!   Resultado: foram quase duas horas de muita emocao, numa estrada com um visual de tirar o folego!  Tinha uma russa no banco de trás que nem respirava de tanto medo. 

Estrada-abismo para hidro

 

Com os batimentos acelerados chegamos finalmente à HIDRO (uma hidrelétrica aos pés do Machu Picchu)!  

No meio do caminho tinha uma cachoeira. Tinha uma cachoeira no meio do caminho.. 

 Colocamos as mochilas nas costas e começamos a caminhar por cima dos trilhos. Nao estávamos sozinhos! Vários grupos de mochileiros nos acompanharam, principalmente argentinos (aliás, parece que os argentinos estao todos pela Bolivia e Peru… estao por toda parte!). 

O grande lance era pisar só nas madeiras.

 

No meio do caminho começou a escurecer e botamos as lanternas em prática! Como cada um tem seu ritmo, acabamos nos afastando e foi ai que o Eder ficou pra trás com as chilenas

Heis que após umas 3h e meia de camhinhada (é, as 2h se multiplicaram depois que a luz do dia se foi…) chegamos à charmosa cidadezinha de Aguas Calientes. É impressionante como se construiu uma cidade literalmente no meio de montanhas tao imponentes. O rio que corta Aguas Calientes é realmente  indomável, o som de suas aguas turbulentas é onipresente! 

Futeba tradicional de domingo na periferia de aguas calientes

 

...e mais artesanias em aguas

 

Sei que as maes ficaram preocupadas com os noticiários sobre as chuvas e deslizamentos em Aguas Calientes, mas eu continuo recomendando essa cidadezinha para uma tranquila estadia, quem sabe na primavera. A combinacao montanha+ banhos termais+ machu picchu (os pais mais sedentários nao precisam se esforçar, tem um onibus que leva até o alto do Machu Picchu) é perfeita e o clima é realmente de pura magia. 

Voltando ao nosso percurso… chegando em Aguas Calientes ficamos esperando uns 40 min a chegada do nosso amigo Eder que acabou demorando mais que isso! =/ Fomos entao atrás de um alojamiento que nos desse banho quente e uma caminha gostosinha pra dormir! Tinhamos a esperança de encontrar o Eder, mas no dia seguinte vimos seu recado aqui no Blog e ficamos mais tranquilos! 

Alojamientos baratos na zona das orquideas..

 

No dia seguinte tiramos umas férias para nossos pés e pernas… ficamos o dia inteiro descansando e nos preparando para a subida que viria. Foi aí que tomamos a primeira cerveja gelada de toda a viagem!

Muita chuva e...

 

Muita preparaçao! Cusquenha, de cusco.

 

Acordamos à 1:30 a.m e partimos pela escura trilha rumo ao Parque do Machu Picchu. Uhhhhhh.. HAJA FOLEGO! Muitos e muitos e muitos degraus, parada para respirar, mais degraus e degraus e degraus… parada para respirar e tomar uma aguinha… e mais degraus… até que se ouvem gritos com sotaques argentinos: FINALMENTE CHEGAMOS AO TOPO! 

Lá em cima a fila para pegar a senha para subir o Wayna Picchu (o monte que fica na frente do Machu Picchu, e que proporciona a vista mais incrivel do Parque) já estava formada. Conseguimos uma otima colocaçao, tipo 43 na fila! 

A vista do waina picchu desde a van. Muitos metros de altura..

 

Aiii de quem furasse a fila!! Tinha varias argentinas atentas que soltavam um ” Fiiiiiiila ChÊÊÊÊ” caso alguem tentasse entrar na frente! Mais 2h de espera na fila e finalmente entramos no Parque do Machu Picchu. Lá pelas 10h da manha subimos ao Waina Picchu pra ver a vista total, uma coisa realmente deslumbrante. 

Vista do topo do Waina..

 

Ficamos o dia todo andando pelas ruínas, tentando escutar as explicacoes dos guias alheios. Vale a pena contratar um guia para explicar a historia dos incas, das construicoes e da cultura em geral, tudo fica muito mais emocionante. Voltamos pra aguas destruidos para uma merecida noite de sono. No dia seguinte pela manha partimos para Cusco, pela mesma rota. Isso foi exatamente 2 dias antes da enchente do Rio e das pessoas 3000 aprisionadas na cidade pelos desmoronamentos no trilho do trem, unica rota para cidadezinha.  

O todo-poderoso trem que tudo leva.

Isso é tudo! Em breve o resumo mais atualizado das minas de Potosi e a branquidao de Sucre.

Pira e Anninha

Galeria: Nosotros!

Me desculpem os desconhecidos, mas esse post é em homenagem às mamaes corujas e os amigos próximos. Descobrimos que quase nao postamos fotos nossas, uma mania de querer fazer tudo documental..

Por isso, uma galeria de 40 fotos só nossas. Haja amor materno!

Estamos bem! Ninguem virou peixe no Peru.

Familia e Amigos!

Devido a forte repercussao das noticias de chuvas fortes nas regioes de Machu picchu e Cusco, no Peru, venho por meio deste infomar a todos que eu, anninha e rafael, com quem viajo neste momento, estamos todos bem! Só agora tomamos conhecimento dos fatos, ao entrar na internet e ler nos jornais essa manha vindo de Potosí a Sucre.

vista do Machu Picchu, de cima do Wayna Picchu

Estávamos em Águas Caliente, cidadezinha que rodea os montes do Machu Picchu, desde quarta passada até sabado de manha. Subimos o Machu Picchu e Wayna Picchu na sexta feira e no sabado de manha retornamos caminhando pelos trilhos do trem, da mesma forma como chegamos a cidade, na quarta feira.

3 horas de caminhada pelos trilhos, retornando do Machu Picchu

Ao longo de todo o trilho até a cidade de Santa Maria, assim como dentro da propria cidade de Aguas Calientes, esse rio é onipresente e de águas muito turbulentas. É agua pra caramba!!! Tiramos fotos e filmamos inclusive, porque é uma fenomeno bizarro. Quando saímos do lugar o rio já estava bastante alto pois chegamos a pegar alguma chuva, mas nada grave.

rio da cidade de Águas Calientes, aos pés do Machu Picchu

Hoje soube que uma argentina e um guia peruano morreram arrastados por esse rio, eles estavam no camping em que pensamos passar as noites aos pés do Machu Picchu. E soube tambem que os trilhos hoje foram soterrados por deslizamentos e estao tentando regularizar a situacao ate amanha, pois a ferrovia é o unico meio de acesso a Aguas Calientes. Muita gente foi resgatada por helicopteros e a embaixada brasileira esta entrando em contato com os MUITOS brasileiros que estao la na cidadela, no momento.

É galera!! Era pra gente estar em contato com o Itamaraty agora, “se avuando” de helicoptero pelas montanhas andinas 🙂

Graças a Deus estamos bem e a sorte está ao nosso lado nessa viagem. (porque passamos por cada uma, que vou te contar…)

Beijos sequinhos!

Bett.

Ultimas Peripécias Bolivianas

Povo,

para uma parte dos Trotaméricas a viagem chegou ao fim.

Eu e a Rafa pegamos um avião de La Paz à Puerto Suarez no dia 19/01 para chegar a tempo para a formatura do Rodrigo (primo da Rafa) em Araçatuba que está se formando em Direito. Por ser afilhado da mãe da Rafa, o compromisso era inadiável. Deixamos, então, a Bolivia para trás e viajamos de volta à Ja(h)les, mas não sem antes passar rapidinho por Coroico e conhecer uma parte diferente desse país – relato logo abaixo!

A intensidade da viagem terminou (snif!) mas a tranquilidade do interior paulista nos traz a oportunidade de refletir sobre tudo o que aconteceu e relatar aquilo que a correria não permitiu. Portanto, novos posts virão com aventuras atrasadas, pensamentos anotados e guardados e impressões ainda frescas em nossas cabecinhas.

Caderninho de Anotações

Entonces, vamos logo à Coroico.

O Ecoturismo, a Neblina e o Morro:

O Ecoturismo está na moda! Não é por menos. Qualquer alma sã, na correria cotidiana, almeja um lugar tranquilo com paisagens deslumbrantes e desertas, caminhadas emocionantes e quem sabe algo mais radical para os mais “arrojados”. As agências, obviamente, não perderam tempo e pipocam por toda parte com o pacote dos seus sonhos. 

A Bolivia não ficou de fora e são inúmeros os passeios “com tudo incluso” que se encontram por là. Coroico é um desses eco-destinos. Reúne todas as atribuições para tanto: à apenas 2h30 de La Paz, a aventura já começa na estrada, uma das mais ingrimes do mundo – a estrada da morte desce 1.350m em cerca de 60km! – , que pode oferecer uma das vistas mais alucinantes da viagem, garantem os guias. Digo “os guias” porque a gente não deu sorte: a neblina cobria as lindas montanhas e a chuva rolou pelo trajeto quase todo. A emoção, no nosso caso, veio do motorista que mesmo em meio à densa nevoa arriscava as tradicionais ultrapassagens “made in Bolivia”. No entanto, nada impediu a Rafa de dormir o tempo inteiro.

Nevoa Coroicoicana

Mas fiquem tranquilos, a estrada não é a única atração: a região de Coroico é bem diferente do altiplano paceño. Por estar bem mais baixa, as encostas rochosas dão lugar à uma mata densa povoada por riquíssimas fauna e flora. A paisagem fica muito mais parecida com a mata atlantica brasileira e sobram cachoeiras, vultosos rios, passáros exóticos e, claro, bananeiras! É por estas razões que é também nesta região que se encontram as unicas comunidades afro-bolivianas do país. Os escravos, após serem trazidos da Africa para trabalhar nas minas – em escala bem menor que no Brasil já que na Bolivia não faltou indio para escravizar -, ao serem libertos migraram para as regiões mais quentes e parecidas com o continente que não tinham condições de reencontrar.

Tocaña é uma destas comunidades e foi o destino que escolhemos conhecer em nossa rápida passada pela região. Fomos, então, à cooperativa de guias da cidade, que se encontra na praça central, para nos informarmos melhor sobre os detalhes para a visita. Alí um guia – bastante mal educado, diga-se de passagem – já nos jogou de cara o preço da aventura: 300 bolivianos para no maximo 4 pessoas, com tudo incluso(?), é claro…

Achamos ruim e certos de nossa capacidade e experiencia após 20 dias na Bolivia, compramos o mapa mal desenhado da região vendido pelos guias por Bs 3 e decidimos que, no dia seguinte logo cedo, ninguém nos impediria de chegar a Tocaña com nossas próprias pernas. 

A noite foi bem agradável. Jantamos sopa e revuelto de carne por Bs 10 e fomos à  praça central checar a concentração gringa no local. Um grupo integrado majoritáriamente por extranjeiros tocava musica boliviana divinamente. Pedimos uma paceña no armazem do Seu Portugal – senhor surdo e super-amigável que não parava de afirmar que não bebia, nem fumava ao mesmo tempo que batia orgulhosamente em sua barriga gabando-se de não estar borracho após às 8 garrafas de paceñas que bebera =S – e logo fomos dormir. 

O dia seguinte amanheceu completamente enevoado e despertou certa duvida em nossas mentes: será que não seria melhor voltar para La Paz de uma vez e comprar os ultimos presentes que ainda faltavam? Definitivamente não! Não teríamos ido até ali para nada e provaríamos à estes guias mercenários que pessoas comuns, se fossem audazes e espertas o bastante, poderiam chegar a Tocaña sem desembolsar somas exorbitantes. Voltamos, então, ao armazém do Seu Portugal para perguntar como chegaríamos. Não convencidos da explicação vaga, voltamos à cooperativa dos guias e perguntamos como chegaríamos à comunidade a pé e sem guia. O cara, meio de má fé, deu uma explicada por cima e là fomos nós, em meio a neblina, descer as ladeiras escorregadias que nos levariam à cultura negra boliviana.

Amanhecer e inicio da Aventura em Coroico

As descidas eram realmente ingrimes e, já na primeira meia hora, tínhamos certeza que não subiríamos de volta por alí. Voltaríamos pelo asfalto com uma vanzinha, pois sabíamos que estas não nos custariam mais de Bs 5. Durante a caminhada, tentávamos nos distrair com os pássaros, seus cantos e ninhos já que as maravilhosas vistas montanhosas nos eram privadas pela nevoa que não disperçava.

Ninhos do Simbolo da Cidade

Após cerca de 1h30 descendo, o caminho acabou! Sem mais, nem menos, não deu em lugar nenhum! Já meio ansiosos, voltamos e achamos umas trilhazinhas menores que continuavam descendo. Nessa hora, a gente só queria chegar no asfalto que aparecia longe là em baixo. Não sabíamos direito como mas o negócio era continuar descendo, certo? Mais us 20 minutos descendo e a trilinha virou lama. “Tinha outra saída mais pra cima. (Rafa) Então vamo! (Eu)” Entramos por esse novo pequeno caminho que, literalmente, se enfiava no mato e, para nosso alivio, chegamos numa casinha muito simples. Na verdade, a casinha, não passava de um barraco no meio do mato. Uma nenem nos recepcionou e chamou sua mãe. Explicamos que estávamos perdidos e a mãe, de pronto – como é sempre de se esperar do povo boliviano -, propôs que seu filho nos levasse a boca da trilha certa.

O menino, rapidinho, nos levou, pela mata, à trilha. Agradecemos um monte e seguimos caminho, imaginando como devia ser o cotidiano daquela familia ao mesmo tempo perto dos “beneficios do turismo” e tão isolada do conforto material que nos parece normal.

A trilha era bem menor, capim alto mas a vista, pela primeira vez, despontou. Erramos mais algumas entradas mas nada demais. Logo chegamos – orgulhosos, suados e felizes da vida – no asfalto e voltamos com o Vicente – motorista negro da van – para Coroico! 

Trilha Final

Rafaela triunfante!

É isso ai, raça! Essa foi nossa ultima peripécia na Bolivia. Pouco depois, voltamos para La Paz para pegar nosso avião no dia seguinte. Mas não desanimem, nos proximos dias vêm mais textos sobre o que deixamos para tráz!

Forte abraço a tod@s!

Jonathan & Rafa